lunes, 9 de noviembre de 2015

ARGININA E CITRULINA POTENCIAL ERGOGÉNICO DURANTE E APÓS O EXERCÍCIO

A suplementação de arginina tem sido fundamentada pela sua possível acção ergogénica no aumento da concentração da hormona de crescimento, na remoção de metabólitos indutores de fadiga e no aumento da vasodilatação e do fluxo sanguíneo muscular secundários à síntese de óxido nítrico. A citrulina parece reduzir a concentração de metabólitos promotores de fadiga, mas o seu principal efeito está no aumento da concentração plasmática de arginina e de óxido nítrico.

Metabolismo
Arginina
A arginina é um aminoácido nutricionalmente classificado como semi-essencial, sendo produzido endogenamente pelo organismo, mas também, sintetizado a partir da alimentação.1 A principal fonte de arginina livre é proveniente da dieta proteica (85%).2 Cerca de 40% da arginina ingerida é transformada em ornitina que na presença de glutamina é convertida em citrulina.2,3 De ressalvar, que a arginina é um dos aminoácidos mais importantes na síntese de creatina, substrato essencial no metabolismo energético muscular.4 No entanto, o destino metabólico mais estudado da arginina é a sua conversão em óxido nítrico.3

Citrulina
A citrulina é um aminoácido semi-essencial, produzido endogenamente através do metabolismo da glutamina e arginina.5,6 Após a sua ingestão esta é libertada para a circulação hepática, atravessando o fígado sem sofrer grandes alterações metabólicas.7 De seguida, cerca de 80% da citrulina é convertida em arginina a nível renal.8 Os estudos demonstram que a suplementação oral de citrulina é mais eficaz no aumento da concentração plasmática de arginina, do que a suplementação com arginina.7,9

Suplementação associada ao exercício físico
Em resposta ao exercício agudo, inúmeros fenómenos interagem com intuito de aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos activos.10

Arginina
Estimulação da produção da hormona de crescimento
Sugere-se que a suplementação de arginina estimule a secreção da hormona de crescimento cujo efeito anabólico se traduz em hipertrofia muscular.11,12 Os mecanismos através dos quais a arginina otimiza a hormona de crescimento não estão esclarecidos11,12, carecendo de estudos mais consistentes neste sentido.

Remoção de metabólitos
A suplementação com arginina tem sido avaliada com o intuito de reduzir metabólitos (lactato e amónia), indutores de fadiga durante o exercício físico. O treino de alta intensidade acarreta a acumulação de amónia a qual estimula a ação da enzima fosfofrutocinase.13 Esta é responsável pela ativação do processo de glicólise que promove a acumulação de lactato e aumento da fadiga.13,14
Santos et al.15 demonstraram que a suplementação oral de 3g de arginina foi capaz de aumentar a resistência muscular à fadiga. Num outro estudo, Sales et al.14 concluíram que apesar da suplementação com 4,5g de aspartato de arginina, não houve otimização do desempenho físico, não tendo ocorrido redução das concentrações de lactato ou amónia. Da mesma forma, McConell et al.16 não relataram alteração da concentração de lactato pela infusão de arginina durante a prática de exercício prolongado. Eto et al.17 encontraram valores plasmáticos significativamente inferiores de amónia após 60 minutos de exercício aeróbio com a ingestão de 20g de glutamato de arginina, por comparação com o grupo placebo. Este efeito sobre a diminuição de amónia também foi observado por Schaefer et al.18
Apesar da evidência reportada, os estudos mencionados não verificaram otimização dos parâmetros de desempenho físico, sendo que as alterações dos marcadores sanguíneos foram atribuídas ao possível aumento da producão de óxido nítrico.

Precursor na produção de óxido nítrico
O efeito metabólico que suscita mais interesse à comunidade científica em relação à suplementação com arginina, passa pelo seu potencial na produção de óxido nitríco19,20, molécula responsável pela vasodilatação do músculo liso.21
A eficiência da suplementação com arginina na hemodinâmica funcional e resposta ao exercício vem sendo demonstrada em indivíduos com doenças metabólicas.22-26 Na atualidade, estudos científicos que avaliem o efeito da suplementação de arginina nos componentes de desempenho físico em indivíduos saudáveis são escassos, muito distintos e apresentam conclusões contraditórias.14,18,27-31 Alguns estudos verificaram efeitos imediatos14,18,27 (90 minutos após a ingestão) da suplementação com arginina, outros não apresentaram qualquer efeito28-31, utilizando períodos curtos (três dias) a longos (oito semanas) de suplementação.

Efeitos adversos da suplementação
A infusão de arginina pode levar a uma superprodução de óxido nítrico e consequente vasodilatação com hipotensão arterial.32,33 Assim, a administração venosa de arginina carece de um grau de maior exigência do que a suplementação oral.32 Dos principais efeitos adversos citados por alguns estudos, destacam-se o desconforto gastrointestinal, náuseas e diarreia.33

Citrulina
Remoção de metabólitos
A suplementação de citrulina durante 15 dias veio a demonstrar, durante a prática de exercício físico, o aumento da produção de adenosina trifosfato em cerca de 34%, o aumento em 20% de fosfocreatina e a redução de fadiga muscular.34 Perez et al.35 reportou que a ingestão de 8g de citrulina pré-treino reduziu a sensação de dor em 40% entre as 24/48h pós-exercício. No entanto, nem todos os estudos suportaram os efeitos referidos.36-38

Aumento da concentração plasmática de arginina
Aliado ao papel da citrulina no ciclo da ureia, pensa-se que este aminoácido otimize o desempenho físico por causar vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo muscular. A sua administração oral parece aumentar a concentração plasmática de arginina39-41 e a produção de óxido nítrico.40,41

Conclusão
A grande maioria dos estudos que demonstraram benefícios cardiovasculares com a suplementação de arginina, pelo seu efeito na produção de óxido nítrico, foram desenvolvidos em indivíduos com comorbolidades metabólicas. Em indivíduos saudáveis, praticantes de exercício físico, suplementados com arginina, há divergência de resultados, quer no seu efeito sobre a produção de óxido nítrico, quer no seu potencial na remoção de metabólitos indutores de fadiga.
A escassez de estudos que avaliem a suplementação de citrulina na função vascular e no exercício físico, bem como, os efeitos adversos e segurança da sua ingestão a longo prazo, determinou a inconsonância de resultados.

Baseado na literatura atual, são necessários mais estudos, que avaliem diferentes dosagens, vias de administração e parâmetros de desempenho físico com o intuito de determinar o efeito ergogénico da arginina e citrulina.


Tatiana Guerra
Licenciada em dietética e nutrição
Trabalha na área clínica e de nutrição desportiva, empresas e escolas


 
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