A
suplementação de arginina tem sido fundamentada pela sua possível acção
ergogénica no aumento da concentração da hormona de crescimento, na remoção de
metabólitos indutores de fadiga e no aumento da vasodilatação e do fluxo
sanguíneo muscular secundários à síntese de óxido nítrico. A citrulina parece reduzir
a concentração de metabólitos promotores de fadiga, mas o seu principal efeito está
no aumento da concentração plasmática de arginina e de óxido nítrico.
Metabolismo
Arginina
A
arginina é um aminoácido nutricionalmente classificado como semi-essencial, sendo
produzido endogenamente pelo organismo, mas também, sintetizado a partir da alimentação.1
A principal fonte de arginina livre é proveniente da dieta proteica (85%).2
Cerca de 40% da arginina ingerida é transformada em ornitina que na presença de
glutamina é convertida em citrulina.2,3 De ressalvar, que a arginina
é um dos aminoácidos mais importantes na síntese de creatina, substrato
essencial no metabolismo energético muscular.4 No entanto, o destino
metabólico mais estudado da arginina é a sua conversão em óxido nítrico.3
Citrulina
A
citrulina é um aminoácido semi-essencial, produzido endogenamente através do
metabolismo da glutamina e arginina.5,6 Após a sua ingestão esta é libertada
para a circulação hepática, atravessando o fígado sem sofrer grandes alterações
metabólicas.7 De seguida, cerca de 80% da citrulina é convertida em arginina
a nível renal.8 Os estudos demonstram que a suplementação oral de citrulina
é mais eficaz no aumento da concentração plasmática de arginina, do que a
suplementação com arginina.7,9
Suplementação
associada ao exercício físico
Em
resposta ao exercício agudo, inúmeros fenómenos interagem com intuito de
aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos activos.10
Arginina
Estimulação da produção da
hormona de crescimento
Sugere-se
que a suplementação de arginina estimule a secreção da hormona de crescimento
cujo efeito anabólico se traduz em hipertrofia muscular.11,12 Os
mecanismos através dos quais a arginina otimiza a hormona de crescimento não estão
esclarecidos11,12, carecendo de estudos mais consistentes neste
sentido.
Remoção de metabólitos
A suplementação com arginina
tem sido avaliada com o intuito de reduzir metabólitos (lactato e amónia), indutores
de fadiga durante o exercício físico. O treino de alta intensidade acarreta a
acumulação de amónia a qual estimula a ação da enzima fosfofrutocinase.13
Esta é responsável pela ativação do processo de glicólise que promove a
acumulação de lactato e aumento da fadiga.13,14
Santos et al.15 demonstraram que a suplementação oral de 3g de
arginina foi capaz de aumentar a resistência muscular à fadiga. Num outro
estudo, Sales et al.14 concluíram
que apesar da suplementação com 4,5g de aspartato de arginina, não houve
otimização do desempenho físico, não tendo ocorrido redução das concentrações
de lactato ou amónia. Da mesma forma, McConell et al.16 não relataram alteração da concentração de
lactato pela infusão de arginina durante a prática de exercício prolongado. Eto
et al.17 encontraram
valores plasmáticos significativamente inferiores de amónia após 60 minutos de exercício
aeróbio com a ingestão de 20g de glutamato de arginina, por comparação com o
grupo placebo. Este efeito sobre a diminuição de amónia também foi observado
por Schaefer et al.18
Apesar da evidência reportada,
os estudos mencionados não verificaram otimização dos parâmetros de desempenho
físico, sendo que as alterações dos marcadores sanguíneos foram atribuídas ao possível
aumento da producão de óxido nítrico.
Precursor na produção de
óxido nítrico
O efeito metabólico que
suscita mais interesse à comunidade científica em relação à suplementação com arginina,
passa pelo seu potencial na produção de óxido nitríco19,20, molécula
responsável pela vasodilatação do músculo liso.21
A eficiência da suplementação
com arginina na hemodinâmica funcional e resposta ao exercício vem sendo demonstrada
em indivíduos com doenças metabólicas.22-26 Na atualidade, estudos
científicos que avaliem o efeito da suplementação de arginina nos componentes
de desempenho físico em indivíduos saudáveis são escassos, muito distintos e apresentam
conclusões contraditórias.14,18,27-31 Alguns estudos verificaram
efeitos imediatos14,18,27 (90 minutos após a ingestão) da
suplementação com arginina, outros não apresentaram qualquer efeito28-31,
utilizando períodos curtos (três dias) a longos (oito semanas) de suplementação.
Efeitos adversos da suplementação
A
infusão de arginina pode levar a uma superprodução de óxido nítrico e
consequente vasodilatação com hipotensão arterial.32,33 Assim, a
administração venosa de arginina carece de um grau de maior exigência do que a
suplementação oral.32 Dos
principais efeitos adversos citados por alguns estudos, destacam-se o desconforto
gastrointestinal, náuseas e diarreia.33
Citrulina
Remoção de metabólitos
A suplementação de citrulina
durante 15 dias veio a demonstrar, durante a prática de exercício físico, o
aumento da produção de adenosina trifosfato em cerca de 34%, o aumento em 20% de
fosfocreatina e a redução de fadiga muscular.34 Perez et al.35 reportou que a
ingestão de 8g de citrulina pré-treino reduziu a sensação de dor em 40% entre
as 24/48h pós-exercício. No entanto, nem todos os estudos suportaram os efeitos
referidos.36-38
Aumento da concentração
plasmática de arginina
Aliado
ao papel da citrulina no ciclo da ureia, pensa-se que este aminoácido otimize o
desempenho físico por causar vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo
muscular. A sua administração oral parece aumentar a concentração plasmática de
arginina39-41 e a produção de óxido nítrico.40,41
Conclusão
A grande maioria dos estudos
que demonstraram benefícios cardiovasculares com a suplementação de arginina,
pelo seu efeito na produção de óxido nítrico, foram desenvolvidos em indivíduos
com comorbolidades metabólicas. Em indivíduos saudáveis, praticantes de
exercício físico, suplementados com arginina, há divergência de resultados,
quer no seu efeito sobre a produção de óxido nítrico, quer no seu potencial na
remoção de metabólitos indutores de fadiga.
A escassez de estudos que
avaliem a suplementação de citrulina na função vascular e no exercício físico,
bem como, os efeitos adversos e segurança da sua ingestão a longo prazo,
determinou a inconsonância de resultados.
Baseado na literatura
atual, são necessários mais estudos, que avaliem diferentes dosagens, vias de
administração e parâmetros de desempenho físico com o intuito de determinar o
efeito ergogénico da arginina e citrulina.
Tatiana Guerra
Licenciada em dietética e nutrição
Trabalha na área clínica e de nutrição desportiva, empresas e escolas





