lunes, 9 de noviembre de 2015

LUTAR SEMPRE, VENCER TALVEZ MAS DESISTIR NUNCA!

Esta é apenas uma das frases que uso não só como forma de motivação para todos os atletas de alta competição a meu cargo, mas também como lema de vida.
Acima de tudo, o mais importante é nunca desistirmos das coisas de que mais gostamos ou sonhamos, e o facto de estar numa cadeira de rodas não me impede de fazer o que sempre quis: trabalhar e motivar pessoas e atletas, enquanto preparador físico e, acreditem, é uma via de dois sentidos.

Desde muito cedo que o meu foco sempre foi o desporto, mas foi aos 12 anos que encontrei o Tumbling, um desporto onde tinha tudo o que mais gostava: velocidade, força, coordenação e, acima de tudo, competição. Não só a competição contra os “outros”, mas principalmente a competição contra os meus próprios limites. Isso permitiu-me estruturar a minha vida com base em objetivos e metas a atingir. O que nunca pensei foi que isso me ajudasse tanto no futuro.

No dia 12 de Janeiro de 2005, com 21 anos, num treino habitual, a realizar um mortal parei no ar caindo com a testa, provocando o deslocamento do corpo sobre a cabeça, causando a luxação da C5-C6.

Foi nesse momento que tudo mudou, mas como habitualmente digo, de uma coisa negativa, surgem muitas mais positivas. Os primeiros meses/anos foram muito difíceis. Passei de quatro horas de treino diárias, a não fazer nada e a não conseguir mexer nada do pescoço para baixo. Foi nessa altura que descobri uma força que penso que está em todos nós. Acredito que, acima de tudo, foi o facto de estar deitado numa cama, e atormentarem-me com a ideia de que não poderia sair de lá, que me deu ainda mais força para continuar a lutar.

Pouco a pouco fui recuperando e evoluindo. Neste momento, continuo com a fisioterapia diária, já me ponho de pé, já dou uns passinhos e, apesar de já ter grande parte da minha independência, ainda tenho muita luta pela frente para atingir o objetivo final.

Após a lesão estive bastante tempo no Hospital de São José e em Alcoitão [no Centro de Medicina de Reabilitação] mas assim que surgiu a oportunidade fui ver um treino de Tumbling, no local do acidente. Nessa altura percebi que era no mundo da ginástica e desporto de alta competição onde me sentia “eu”. Tinha de arranjar maneira de transmitir tudo o que esta experiência me tinha ensinado, entre outras coisas, sempre com noção que precisava de “ferramentas”. Na altura do acidente tinha acabado o curso Técnico-Profissional de Desporto que dava equivalência ao 12.º ano. Esta parte da minha vida tinha ficado em suspenso. 

Só passados dois anos, após um grande processo de adaptação e aprendizagem interior, ao que eu chamo “sair da cadeira”, é que percebi que era uma melhor pessoa, capaz de tudo a que me proponho. Decidi então, incentivado por família e todos os amigos, tanto do fitness como da ginástica, tirar o curso da Manz, o IFE (instrutor de fitness especializado).

Durante estes dez anos tive uma grande ajuda. Tive a oportunidade de dar aulas de ginástica a crianças entre os 8-16 anos, sempre com alguém ao meu lado a ajudar, onde para além de ensinar, aprendi e cresci. Nessa altura as crianças não me viam na cadeira mas sim como um professor, diziam frases como: “agora quando vejo professores de ginástica que não estão na cadeira é que acho estranho". Foi um período de grande crescimento.

Foi durante o curso e, consequentemente o estágio, que comecei a perceber que era realmente isto que queria fazer, com noção que o caminho não iria ser fácil. Iria ter o dobro do trabalho, desde o deslocamento na sala de exercício, devido aos “obstáculos” de passar entre as máquinas, à demonstração dos exercícios. Assim, fui aprendendo e criando estratégias na prescrição de treino, como transmitir por palavras o que muitas vezes apenas se consegue com demonstração, tornando assim as pessoas mais independentes. Tornei-me uma pessoa muito mais observadora e com vontade de estudar, aprender, ler e principalmente trocar ideias, sendo que, para mim, a melhor forma de aprendizagem são todos os feedbacks. Nunca parei de querer evoluir em várias áreas e, deste modo, também tirei o curso de micro expressões e linguagem corporal, que acrescentaram imenso valor tanto a nível pessoal como profissional. É desta forma que, conseguindo dar o melhor de mim às pessoas, recebo o melhor de todas elas.

Como referi anteriormente, um dos meus grandes objetivos é ir além da sala de exercício e conseguir dar aquele “empurrãozinho” extra com a preparação física aos atletas, que acredito ser muito importante para a recuperação de lesões, a correção de postura e o ganho de força. E apesar de continuar a trabalhar em 3 ginásios simultaneamente, Lisboa Ginásio Clube (LGC), Ginásio Clube Português (GCP) e Go fit, há pouco tempo, consegui concretizar mais um objetivo: trabalhar como preparador físico de atletas de alta competição. Fui convidado a colaborar na preparação/treino de dois atletas do Projeto Olímpico de Trampolins, mas também já sou responsável pela preparação física de muitos outros atletas de trampolins, de ginástica artística e acrobática do LGC e seleção nacional. Neste momento, também treino ex-atletas com o intuito de conseguirem alcançar as suas novas metas. 

É como preparador físico destes atletas e ex-atletas que me sinto confortável, onde consigo dar tudo e o melhor de mim, como eles fazem em todos os treinos. São nesses treinos onde implemento toda esta aprendizagem não só em termos de conhecimentos específicos, mas também através de frases motivadoras que tenho utilizado ao longo desta “luta” como, insiste e não desiste, o lema em que me baseio e sei que estamos todos em sintonia.

Acredito que, mais importante do que aprender juntos é crescer juntos. A força e o incentivo que os atletas me transmitem, ao longo dos nossos treinos, é um fator motivacional para alcançar os meus objetivos e lutar pela construção de novas metas.

É algo difícil de explicar por palavras, mas sempre que vou a um campeonato, sinto que sou eu a saltar. Sempre que ganham uma medalha, como há pouco tempo em Baku, sinto que também ganhei. 

Até mesmo nas pequenas conquistas, nos treinos, sinto um orgulho incomparável e, quando corre menos bem, sinto-me com vontade de fazer cada vez mais e melhor. Sou muito exigente e rigoroso, não só com eles, mas principalmente comigo. Por isso, apesar de todos os conhecimentos e experiências até agora adquiridos, a próxima grande meta é de ingressar no Ensino Superior e obter um Mestrado em Alto Rendimento, uma área em constante evolução. Faz todo o sentido e é realmente isto que gosto de fazer. Estudar em prol desses atletas e clientes para conseguirem alcançar os seus objetivos.

O acidente impossibilitou-me de conseguir este sonho mais cedo, uma vez que a lesão aconteceu no momento em que ia tirar a licenciatura. 

Não vai ser fácil. Para isso tenho de reorganizar a minha vida, o meu dia-a-dia. Nunca, é certo, prescindindo de dar tudo o que os meus clientes e atletas precisam. Hoje trabalho 6 dias por semana, tendo apenas o sábado livre, mas quero estudar, em prol dessas pessoas às quais me dedico!

Sei que nunca vou parar de evoluir, tanto a nível profissional como pessoal. E não tenho dúvidas que rodeado das pessoas certas, as que não se cansam de me dar força, que não me deixam desistir, e que me acompanham em todos os momentos, vou conseguir alcançar tudo o que quero.

O que posso dizer é, seja por estar sentado numa cadeira de rodas, ou uma outra coisa, o mais importante é nunca desistirmos dos nossos sonhos e objetivos. Não conseguimos de uma forma, conquistamos de outra!

Tiago Sousa
Preparador Físico do Projeto Olímpico dos Trampolins
Instrutor de Musculação e Cardiofitness no LGC, GCP e Go-Fit

 
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