O golfe é um desporto desafiante que teve um aumento de popularidade ao longo dos últimos 10 a 15 anos. É visto pela generalidade como um jogo de técnica e perícia que requer menos esforço que a maioria dos outros desportos. Esta concepção é claramente errada. O golfe é um desporto incrivelmente atlético, senão vejamos:
Ao bater um drive o golfista amador atinge 90% do seu pico de ativação muscular, o que representa uma intensidade elevatória igual à de levantar um peso que só pode ser elevado quatro vezes antes da fadiga total ser alcançada. Este nível de esforço e de ativação muscular equipara o golfe a outros desportos, tais como, o futebol, o hóquei ou ainda as artes marciais.
Trabalhe o seu Corpo para melhorar o seu swing
Muitos golfistas despendem horas no Driving Range à procura do swing ideal ou adquirem equipamento de última geração em busca de uns metros extra nas suas pancadas, mas não se focam no melhor equipamento que têm disponível: os seus corpos. Partindo do conceito - quem joga o jogo é o homem e não os tacos - acredito no desenvolvimento das capacidades físicas como o principal pilar para a progressão do golfista.
Um corpo flexível, estável e forte é a chave para um swing fluído, consistente e potente, que permitirá não só colocar a bola a maiores distâncias, como corrigir erros de swing e prevenir lesões que, muitas vezes, tendem a deixar os golfistas fora dos campos por tempo indeterminado.
Assim, é imperativo que o golfista esteja fisicamente preparado para a atividade do golfe, pois só desta forma o seu corpo conseguirá dissipar adequadamente as forças provenientes do swing sem prejuízo para o próprio. Caso contrário, irá fazer parte dos seguintes números: aproximadamente 60% dos jogadores profissionais e 40% dos amadores sofrem lesões por sobrecarga ou traumáticas ao longo de uma época.
Importa destacar que as lesões lombares, do cotovelo, ombro e do punho estão entre as queixas mais comuns dos praticantes de golfe que, quando não diagnosticadas ou tratadas corretamente, podem levar a períodos de paragem mais prolongados.
A coluna lombar é a região do corpo mais vezes afetada, independentemente do nível de golfe praticado. A sua limitada torção fisiológica sobre um eixo fixo, combinada com a alta velocidade do swing e a necessidade de o parar repentinamente, poderão potenciar determinadas lesões como o espasmo muscular, a hérnia discal, artrose das pequenas articulações posteriores da coluna, entre outras.
Segue-se o cotovelo como a segunda região de maior incidência de lesões (sobretudo no atleta amador). O denominado “cotovelo do golfista” (inflamação do epicôndilo medial – face interna) deve-se, sobretudo, ao contacto precoce do taco com a relva, provocando uma carga excessiva sobre os tendões que se inserem no epicôndilo. Do lado oposto, temos o “cotovelo do tenista” (inflamação do epicôndilo lateral – face externa) que pode ter origem no excesso de uso e de swings realizados, essencialmente no cotovelo direito, no caso dos destros. Estas lesões aumentam com a frequência do jogo e com a idade.
O ombro, por sua vez, no caso dos jogadores destros, devido ao stress mecânico exercido na fase final do backswing (ombro esquerdo) e do follow-through (ombro direito) poderá desenvolver quadros dolorosos, por vezes devido à inflamação tendinosa, à osteoartrose já presente ou, até mesmo, ao descondicionamento muscular.
Por último, as lesões do punho mais frequentes nos jogadores profissionais e no punho esquerdo (nos jogadores destros), relacionam-se com o excesso de carga exercida, sobretudo no lado externo.
A Prevenção e a Avaliação física no Golfe como ferramentas de melhoria da performance
A consciencialização de que na prevenção está o ganho, quer ao nível da redução do número de lesões, quer na melhoria de performance, é fundamental para um golfe com qualidade e com mais saúde. Desta forma, destaco alguns pontos que devem fazer parte da rotina de um “verdadeiro atleta”:
1. Aquecer e alongar sempre antes de jogar no campo de golfe, no mínimo 10 minutos
– 80% dos golfistas não fazem o aquecimento adequado;
2. Alongar os vários grupos musculares – não apenas os ombros e cotovelos
– Flexibilidade da anca (forte relação com dor lombar);
3. Fortalecimento do músculo glúteo médio (faz abertura da perna)
– Permite uma maior estabilização da cintura pélvica
4. Fortalecimento da musculatura abdominal
– Fortalecimento dos músculos abdominais e da região dorsal diminuem a sobrecarga lombar durante o swing.
5. Controlo dos fatores de risco cardiovascular
– Definir estratégias para uma prática mais segura
Não menos importante que o trabalho preventivo, a Avaliação física no Golfe responde às seguintes perguntas: “Estarei apto para jogar golfe?”, “Quais as minhas limitações?” .
Consiste na realização de vários testes com a finalidade de aferir a funcionalidade dos padrões de movimento necessários para o golfe, ou seja, na medição de vários indicadores de estabilidade, mobilidade, equilíbrio assim como vários parâmetros de rendimento como a força, potência e capacidade cardiovascular.
Este tipo de avaliação constitui o ponto de partida para jogar melhor e para prevenir lesões.
Frederico Silva