O papel positivo da atividade física para a saúde não se esgota na prevenção da obesidade e de outras doenças e traz inúmeros outros benefícios que abrangem claramente as pessoas saudáveis de todas as idades. Tem sido estudado o efeito que o exercício físico tem no corpo e está provado que influencia positivamente o funcionamento de vários aparelhos e órgãos. Destacamos os efeitos positivos sobre os aparelhos: cardiovascular, respiratório, osteoarticular e muscular, assim como promove o bem-estar psicológico, a saúde mental e a socialização, contribui para melhorar o equilíbrio, a capacidade cerebral, o sono e o sistema imunitário e é importante no controlo do peso e na prevenção de várias doenças crónicas não transmissíveis.
Nas últimas décadas verificaram-se progressivos avanços tecnológicos que vieram alterar os modos de vida da sociedade. O impacto desta evolução tem tido reflexo nos indivíduos de todas as idades, tendo como resultado um aumento do tempo despendido em atividades de carácter sedentário, na posição de sentado (quantidade de termogénese de atividade sem exercício, NEAT – Non Exercise Activity Termogenesis). A evidência científica tem vindo a destacar que longos períodos na posição sentada estão associados a problemas de saúde contribuindo para aumentar a prevalência de doenças não transmissíveis. Assim, será importante, além de promover o aumento dos índices de atividade física, procurar reduzir os longos e contínuos períodos diários de atividade sentada.
Um estilo de vida sedentário aponta para reduzidos níveis de atividade física moderada e vigorosa, sendo que são apontados benefícios para a saúde associados ao cumprimento das recomendações da OMS para a atividade física. Contudo, mesmo que estas sejam cumpridas, os indivíduos que ficarem na posição sentada por longos períodos enfrentam e acentuam eventuais riscos para a sua saúde. Atualmente, evidências apontam para a importância das pausas entre atividades sedentárias, realizando interrupções curtas a cada meia hora em que se podem fazer as tarefas de pé durante esses momentos como é o caso de falar ao telefone, ler os e-mails ou beber água, procurando também aumentar as oportunidades e situações que possam evitar a posição sentada (sempre que possível reunir em pé, reduzir a utilização de transportes motorizados). A promoção da saúde não depende apenas do aumento da prática de atividade física mas também da redução de longos períodos diários na posição sentada.
Um estudo realizado pela American Medical Association, em 2012, teve como objetivo determinar a relação entre o tempo sentado e causas de mortalidade, utilizando uma amostra de 222.497 adultos. A conclusão foi de que longos períodos na posição sentada estão significativamente associados à mortalidade (6,9%), independentemente da prática de atividade física, sexo, grupo etário, saúde ou índice de massa corporal. Outro estudo mais recente, 2015, indica que elevados períodos de tempo sedentário estão associados a problemas na saúde dos indivíduos, independentemente da atividade física. Os efeitos nefastos de estar longos períodos na posição sentada são mais pronunciados nos indivíduos que praticam pouco ou nenhum exercício, quando comparados com aqueles que o fazem regularmente.
Apesar de haver algumas incertezas quanto à intensidade mínima e à duração ótima das interrupções, a mudança da posição sentada para a posição de pé envolve diferentes processos benéficos para a saúde, como aqueles que estão envolvidos no metabolismo da gordura no organismo. O dispêndio energético do individuo em pé, devido ao aumento da frequência cardíaca e do envolvimento de um maior número de músculos, poderá apresentar valores duplamente superiores quando comparado com a posição sentada.
Esta preocupação com a saúde intensifica-se quando se analisam os dados disponíveis da última sondagem Eurobarómetro sobre desporto e atividade física, publicada em março de 2014. Dos 28 países onde se fez o inquérito, aqueles em que a população pratica menos atividade física são a Bulgária, em que 78% dos inquiridos não praticam exercício, Malta, com uma percentagem de 75% e Portugal com 64%. Estes dados são preocupantes pelos efeitos que têm na saúde das populações em especial se associados aos aspetos negativos do sedentarismo e do tempo que se passa na posição de sentado.
Se as pessoas iniciarem atividades de exercício físico, progressivamente, terão tendência a aumentarem a quantidade de atividade física que praticam e a serem menos sedentárias, portanto, a passarem menos tempo na posição de sentados.
No entanto, colocam-se várias dificuldades relacionadas com os estímulos que podem desencadear o início da prática do exercício físico e a sua manutenção.
Para refletir sobre esta vertente central da promoção da atividade física relembramos 2 artigos do Prof. Jorge Mota, que ao refletir sobre as vertentes que influenciam a motivação para a prática e a manutenção da atividade física considera como cruciais o prazer e a felicidade que essa prática deve dar ao indivíduo e os aspetos relacionados com a comunicação interpessoal, onde se inclui a comunicação não-verbal. Citando:
“Podemos isolar cinco tendências na evolução das exigências sobre a atividade física no contexto do lazer: 1. A procura da autonomia, que tem como consequência a rejeição das grandes organizações, as quais lidam com os indivíduos com um excesso de restrições e regulamentações; 2. A procura do prazer, da alegria e realização pessoal, em detrimento do tradicional ascetismo desportivo; 3. A procura da vitalidade e da “forma” com o intuito de garantir o bem-estar físico; 4. A procura de uma rica comunicação interindividual, pela participação em pequenos e informais grupos por oposição às grandes organizações e instituições; 5. A procura de uma harmonia entre as qualidades mentais e físicas, como envolvimento natural e urbano”.
Nesse artigo é ainda referido que “O usufruto das atividades de lazer é determinado mais por fatores subjetivos como a liberdade e perceção de competência na realização daquelas práticas, do que por fatores objetivos como a prática em si mesmo ou a capacidade financeira do sujeito”.
Como conclusão considera-se importante procurar formas de promoção de atividade física que tenham estes fatores em linha de conta, para além das componentes culturais específicas dos portugueses relativamente às oportunidades da prática de atividade física, nomeadamente, a sua sazonalidade. Considera-se, também, crucial que a promoção da prática da atividade física seja feita em simultâneo com a diminuição dos períodos em que se está sentado, estimulando as pausas ativas para a posição de pé.
Bibliografia
- • Biswas A. et al. Sedentary Time and Its Association With Risk for Disease Incidence, Mortality, and Hospitalization in Adults. 2015
- • Mota J. Actividade Física e Lazer – contextos actuais e ideias futuras. Rev. Port. Ciências do Desporto. 2001
- • Mota J. Atividade Física, sedentarismo e promoção da saúde. Rev Bras Atividade Física e Saúde. 2012
- • Peterson MD. Sitting Time and All-Cause Mortality Risk. Arch Intern Med. 2012







