Perante a realidade da evidente ineficácia das fiscalizações aos operadores ilegais ou a sua falta, a procura de outros enquadramentos legais por parte de muitos operadores ou, ainda, a eventual abertura da AGAP a estas duas realidades, impõem-se soluções por forma a que aqueles que pugnam pela legalidade e dignificam o sector possam ter ao seu dispor outras ferramentas para além daquelas que encontramos nos manuais de “marketing” ou que são produto da criatividade de cada um dos vários gestores/profissionais do "fitness".
Debatemo-nos, permanentemente, com inúmeras situações de operadores, tantas vezes na porta do lado, oferecendo serviços semelhantes aos nossos mas que, pelo facto de omitirem a sua existência e prescindirem dos procedimentos de legalização, vivem numa confortável e proveitosa ilegalidade. Confrontamo-nos, também e cada vez mais, com outros operadores que, por forma a fugirem ao IVA ou a outras obrigações do foro fiscal ou legal aplicado ao nosso sector, preferem optar por outros enquadramentos legais não deixando por isso de manifestamente distorcerem a concorrência. Como se tudo isso não bastasse,está no ar a hipótese de abertura da AGAP, evidentemente após escrutínio aos associados, com a justificação de que tal medida promoverá o crescimento, a visibilidade e o poder negocial da AGAP.
Tal como uma franja considerável, arriscaria o termo maioritária, de membros da nossa associação, enquanto proprietário/gestor/profissional, sou um céptico relativamente ao futuro de um sector que tem tido como medida primeira para combater a situação a baixa repetida de preços; e olho também com algum cepticismo a abertura da AGAP como atrás foi referido.
Bem! Sejamos pragmáticos. Nem sempre resistir é o melhor caminho e, quase sempre, superar os desafios adaptando-nos a novas realidades acaba por ser parte da solução. Em minha opinião, e caso sejam tomadas algumas medidas, não só a abertura da AGAP poderá vir a revelar-se positiva para o sector como os operadores prevaricadores poderão ter a sua vida dificultada.
O que proponho é a criação de algumas designações com critérios de atribuição bem definidos que permitam aos operadores membros da AGAP divulgar o seu produto com novas mais-valias, algo idêntico àquilo que são as várias certificações de qualidade.
Sabemos que o consumidor, "escaldado" com a crise e cerebralmente invadido pelos inúmeros slogans que repetidamente fazem um “upgrade” da realidade, tende a desvalorizar a diferenciação pelo que se torna difícil apresentarmos produtos de qualidade de forma credível. Se alguém de confiança passou a informação de que o seu clube possui determinadas características que o diferenciam pela positiva poderá poupar o "latim" dos seus vendedores na tentativa de conquista de um novo membro que, convenhamos, para bem da sua empresa, será bom que se confirmem. Contudo, na maioria dos casos, é difícil passar a mensagem de que tem para oferecer algo de positivo e/ou inovador que outros já não tenham prometido, a menos que essa informação seja proveniente de uma entidade idónea e for convenientemente divulgada em suportes que transmitam credibilidade. A criação de designações poderá ser a ferramenta eficaz que permita realmente junto do consumidor a diferenciação dos operadores. Estou convencido também que, tal medida, irá "puxar" por todo o sector pois ninguém quererá ficar para trás, a menos que aquilo que tenha para oferecer sejam apenas... Preços baixos, algo que é perfeitamente legítimo e tem o seu público-alvo.
Na prática, as designações antes referidas poderão ser várias e aqui apenas deixarei exemplos possíveis, tanto na designação em si como no conteúdo.
"Clube legal" - para todos aqueles que obedeçam aos vários ou a uma parte considerada essencial dos itens necessários à legalização de um clube.
"Clube referência" - para todos aqueles que, além do referido acima, ofereçam ainda, a título de exemplo: acompanhamento especial efectivo aos seus membros e que justifique a designação de prestador de serviços, altos níveis de higiene, professores licenciados, etc. Itens a serem estudados e que deverão obedecer a um caderno de encargos devidamente afixado nas instalações por forma a ser facilmente fiscalizável pelos utentes.
Nota: Parece-me evidente que quando alguém procura um local para prática é-lhe fácil perceber o tipo de oferta: se há ou não piscina, se há mais ou menos luz natural, se as instalações são mais ou menos atraentes, o tipo de modalidades, etc. Já não é fácil para quem se inscreve num determinado espaço, a menos que tenha tido informação de alguém de confiança que o já tenha frequentado, saber a forma como vai ser tratado e, mais importante, tratadode forma sistemática. No fundo, estamos a falar de algo idêntico àquilo que é exigível em certas certificações de qualidade.
"Clube saúde" - para todos aqueles que, além do referido para o "Clube legal", possuam também nos seus quadros técnicos profissionais de saúde, como médicos e fisioterapeutas.
Nota: Relativamente a esta designação, ela surge-me constatando uma certa relutância, compreensível convenhamos, por parte da Ordem dos Médicos, em prescrever a prática de exercício a um determinado paciente confiando a prescrição do referido exercício e subsequente prática a um determinado clube. Com esta designação poderíamos obter uma eventual aceitação efectiva por parte da referida ordem de que, em certos espaços, oferecemos serviços, confiáveis, de índole médica (saúde).
É certo que este assunto não se esgota apenas em questões do foro técnico mas igualmente em questões ficais, IVA nomeadamente. Será para outro debate.
Ainda dentro do âmbito desta designação, parece-me pertinente abordar de forma rápida uma outra questão que considero muito útil.
Estou convicto que de deveríamos valorizar mais a questão do director técnico e sermos menos exigentes relativamente às habilitações dos professores. Passo a explicar. As realidades dos clubes onde se pratica exercício são diversas e em constante mutação, sendo que me parece ser uma evidencia que o ensino superior não só não prepara professores para muitas disciplinas altamente técnicas como os yogas, as danças, as artes marciais etc, etc,e que são, hoje, nalguns casos, percentagem parcial ou absoluta das modalidades oferecidas pelos clubes, como não me parece razoável exigir a um professor de dança que tenha de fazer também um curso superior na área do exercício físico para poder leccionar. Ora, isso seria resolvido se ao director técnico fosse exigido um mestrado ou pós- graduação onde adquirisse conhecimentos que lhe permitissem, efectivamente, não só ser capaz de analisar os conteúdos propostos pelos diversos professores como também ter fortes conhecimentos na área da saúde como, por exemplo e entre muitas outras coisas, saber ler um relatório de uma ressonância magnética, que lhe permitissem fazer a ponte entre o médico que diagnostica e o utente ao qual deve ser prescrito o exercício mais apropriado. Também nesta área, será assunto para outros debates.
Comissão para estudo deste assunto peca por tardia pois há muito que lutamos contra moinhos de vento e vemos alguns operadores ilegais passarem-nos a perna. É urgente que a AGAP tome como sua a luta de muitos dos seus associados que precisam, rapidamente, de novas ferramentas e argumentos de “marketing”. Se não é relevante para o consumidor que o clube que procura pertença a uma associação empresarial como a nossa, nem associe a isso qualquer vantagem, terá a AGAP de possibilitar a muitos de nós uma diferenciação pela positiva e nos faça acreditar que, para além de outras razões pelas quais nos orgulhamos de pertencer a uma associação como a AGAP, vale a pena ser membro da associação de ginásios e academias de Portugal.
Nuno Moura