O CrossFit é sem dúvida uma modalidade em grande expansão no mercado internacional de fitness. O aparecimento de novas boxs tem sido exponencial, captando cada vez mais adepto e praticantes. Neste contexto Portugal não é exceção.
Tecnicamente o Crossfit é uma trademark, uma empresa, que nasceu em 2000 mas com raízes plantadas pelo fundador Greg Glassman em 1996, que abre um ginásio em Santa Cruz, na Califórnia, e é contratado pelo departamento de policia local para treinar agentes policiais. Glassman teve um passado desportivo baseado na ginástica e criou a marca Crossfit em 2000, com a sua primeira afiliação no norte de Seattle. Em 2005 eram 13 boxs filiadas, em 2012 eram cerca de 3400 boxes filiadas pelo mundo, nesta altura são cerca de 11247. No ano de 2012 nasce em Portugal a primeira box filiada, em Palmela, seguindo-se Aveiro, Porto, Lisboa, Portimão, tendo neste momento as principais cidades portuguesas com boxs filiadas na marca criada por Glassman, perfazendo um total de 51 box.
No entanto, no mercado nacional não existem apenas boxs filiadas que estão autorizadas a usar a trademark CrossFit. Existem boxs não filiadas com designações tão comuns como Cross Training, ou Cross Box. Principais diferenças? A chancela da CrossFit garante que os choachs (treinadores) tem o CrossFit Level 1 Trainer Course (L1) e que a box investiu $3000 ano para poder usufruir da marca. A opção não afiliada não garante a formação dos seus treinadores / instrutores, embora uma grande maioria tenha o L1. Neste momento Portugal conta com cerca de 430 treinadores crossfit1.
Na essencia as boxs estão enquadradas dentro do modelo de negócio boutiques, ou seja, espaços pequenos, com uma dinâmica de poucos utilizadores ao mesmo tempo, com um foco na qualidade do serviço/treino e com preços normalmente elevados face à média de mercado (>50€). Apesar de ser um negocio que se enquadra num mercado mais underground, a realidade é que a projeção dos CrossFit Games, a parceria com a Reebok, o mediatismo de atletas icónicos como Rich Froning Jr. e Jason Khalipa e o próprio crescimento do número de boxs, colocam este posicionamento em risco. Obviamente que este risco está calculado, não é a toa que Glassman faz parte do lote dos 10 multimilionários do sector do fitness, não há como não o ser. Um modelo disruptivo, que tem como base a internet, com uma abordagem descentralizada e em regime de open source (aberto), com muita informação à disposição de todos os interessados. No entanto é no terreno que a diferença é feita, a comunidade, o culto, a união e a paixão que movimentam a modalidade são factores diferenciadoras e marcantes, fruto da metodologia de treino que impera sobre o CrossFit.
Em Portugal, a modalidade tem crescido em boxs stand alone, e boxs inseridas dentro de ginásios. O mercado rapidamente percebeu que a modalidade necessita quase obrigatoriamente de um espaço dedicado, caso isso não suceda, vai rapidamente existir uma clara falta de identidade com modalidade e a segmentação fica pouco clara. Montar uma estrutura pra pull-ups (elevações) e comprar umas barras, pode parecer que temos um espaço dedicado, mas não passa disso mesmo, uma ilusão.
Um dos factores que marca a diferença entre o modelo de ginásios tradicionais é a existência de uma comunidade, que se apoia, motiva e se retém de uma forma natural e quase autónoma.
Os consumidores, assim como os produtos, têm um ciclo de vida, que as organizações podem tentar gerir (Ang & Buttle, 2006). O Crossfit faz isso como poucos, e o lema da modalidade, onde o ultimo é o mais aplaudido e apoiado por todos, torna esta modalidade única, diferenciadora e apaixonante, de uma forma difícil de replicar.
Uma das principais razões pelas quais os praticantes abandonam a prática da atividade física é devido à incapacidade de sentir ou ver as consequências positivas relacionadas com os resultados e o seu bem estar (Alexandris, Zahariadis, Tsorbatzoudis & Grouios, 2004), mais uma vez a metodologia usada pelo Crossfit, movimentos funcionais, executados com alta intensidade (que varia de individuo para individuo) e com uma variedade constante, acabam por ter uma ligação aos resultados, que são visíveis para uma grande parte dos praticantes.
A decisão de optar por abrir uma box, deve ser planeada e devidamente enquadrada no posicionamento que deseja, não basta estar focado em ser diferente, precisa de ser bom.
Se é proprietário de uma unidade tradicional de fitness e vê este modelo de negocio como uma forma de crescimento do modelo atual, será importante aprofundar conhecimento sobre as particularidades inerentes a esta área tão especifica. Verifique também se o posicionalmente está em linha com a sua marca e no caso de não estar crie outra marca, ou sub-marca, porque o posicionamento define a projeção do produto e a imagem da organização, procurando ser sempre inovadora e diferenciadora, destacando-se de entre os concorrentes (Kotler, 2001).
Na abertura de um box stand alone, ou seja, um espaço isolado e independente, será aconselhado fazer um business plan (plano de negócio) consistente, que contenha todas as variáveis do negocio. Resumindo, seja profissional. Analise muito bem todas as variáveis e contextos. Na essência, o posicionamento que o CrossFit tem neste momento é muito tentador e apelativo, mas será o negocio ideal para si?
