jueves, 12 de junio de 2014

PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO. UM DESAFIO CONSTANTE PARA OS PROFISSIONAIS


O contexto do Desporto, e a área socioprofissional do Exercício e Saúde, em particular, tem vindo a atrair populações-alvo diversas, quanto aos seus objetivos, necessidades, características e benefícios obtidos através do exercício físico: população adulta aparentemente saudável, populações especiais (fases especiais da vida, deficiência e condições clínicas), além dos atletas.



A prescrição do exercício constitui-se como corpo de conhecimentos que permite dar respostas adequadas, proporcionando estímulos efetivos (metabólicos, mecânicos, psicológicos, entre outros), através do exercício físico. Os profissionais deverão também saber aplicar os meios disponíveis para a avaliação subjetiva e objetiva dos praticantes, aconselhar para a prática de exercício físico formal ou informal mais adequado a cada pessoa, e adaptar as linhas orientadoras da Prescrição do Exercício, no sentido de estabelecer objetivos realistas, seguros e efetivos, preferencialmente integrando equipas multidisciplinares (saúde, nutrição, psicologia).

São pressupostos da Prescrição do Exercício: a melhoria da condição física; a promoção da saúde pela redução dos fatores de risco de doença crónica; e a observação das condições de segurança durante a prática física. Estes pressupostos, não são iguais para todas as pessoas, podendo ter diferentes pesos, pois dependem de: interesses e objetivos individuais; motivação e preferências relativamente ao tipo de atividades físicas; estado de saúde ou necessidades relativas à saúde (incluindo medicação); e, estado clínico (perfil relativamente a fatores de risco de determinadas doenças). Como exemplo, para um indivíduo sedentário, em risco de doença crónica prematura, adotar um estilo de vida moderadamente ativo, poderá proporcionar um maior benefício para a sua saúde (e verificar-se de facto), do que aumentar o consumo máximo de oxigénio. Numa fase posterior, a prescrição do exercício, deverá apontar para a melhoria da sua condição física.
Recentemente, o ACSM definiu dois tipos de componentes da condição física - relacionada com a saúde, e relacionada com a habilidade motora – da forma apresentada seguidamente (adaptado de ACSM, 2013). (1) Componentes da condição física relacionadas com a saúde (health-related physical fitness components): Resistência cardiorrespiratória (capacidade dos sistemas circulatório e respiratório para fornecer oxigénio durante a atividade física continuada); Composição corporal (quantidades relativas de músculo, gordura, osso e outras partes vitais); Força muscular (capacidade do músculo para exercer força); Resistência muscular (capacidade do músculo para continuar a executar uma ação sem fadiga); e, Flexibilidade (amplitude de movimento disponível numa articulação); e (2) Componentes da condição física relacionadas com a habilidade (skill-related physical fitness components): Agilidade (capacidade de alterar a posição do corpo no espaço com velocidade e precisão); Coordenação (capacidade de usar os sentidos, como a visão e a audição, juntamente com as partes do corpo, na execução de tarefas, de forma suave e com precisão); Equilíbrio (manutenção do equilíbrio na posição estática ou em movimento); Potência (capacidade ou taxa a que cada um consegue realizar trabalho); Tempo de reação (tempo decorrido entre o estímulo e o início da reação a ele); Velocidade (capacidade de realizar um movimento dentro de um período de tempo curto).
A melhoria destas componentes pressupõe os dois principais Princípios do Treino: sobrecarga e especificidade. O princípio da sobrecarga prevê que para um tecido ou órgão melhorar a sua função, tem que ser exposto a uma carga, à qual não está normalmente habituado. A repetição desse estímulo está associada à adaptação desse tecido ou órgão, que leva à melhoria da sua capacidade funcional. O princípio da especificidade refere que os efeitos de treino resultantes de um programa de exercício são específicos, relativamente aos exercícios realizados e aos músculos envolvidos.
Pedersen e Saltin (2006) descrevem de forma objetiva as evidências científicas que sustentam a prescrição do exercício como terapia de variados problemas de saúde, tais como, problemas relacionados com síndrome metabólica (resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão, obesidade), problemas cardíacos e pulmonares (doença pulmonar obstrutiva crónica, doença coronária, falha cardíaca crónica, claudicação intermitente), doenças do músculo, osso e articulação (osteoartrite, artrite reumatoide, osteoporose, fibromialgia, síndrome de fadiga crónica), cancro, depressão, asma e diabetes tipo 1. Para cada caso são descritos o efeito do exercício físico na patogénese, nos sintomas específicos, na condição física ou força, e na qualidade de vida. Simultaneamente, as linhas orientadoras da Prescrição do Exercício pressupõem que os níveis de segurança não são ultrapassados, o que significa que a prevenção de lesões é uma preocupação constante. O American College of Sports Medicine é considerada a instituição de referência neste domínio, sendo que, recentemente, apresentou novas linhas orientadoras (ACSM, 2013). 
As componentes da Prescrição do Exercício sistemático e individualizado, incluem a adequação do seguinte princípio: F – Frequência (“quantas vezes”); I – Intensidade (“quão difícil”); T – Tempo (duração ou “quanto tempo”); T - Tipo (modo ou tipo de exercício); V – Volume (“quantidade”); P – Progressão (“progresso” ou “aumento”).
Estas componentes aplicam-se quando se desenvolve a prescrição de exercício para pessoas de todas as idades e níveis de Condição Física, independentemente da presença ou ausência de fatores de risco ou doenças. A progressão do exercício é um pressuposto implícito na prescrição do exercício, sendo necessária para assegurar o princípio da sobrecarga.
Deste modo, a arte da Prescrição do Exercício é a integração bem-sucedida das ciências do Exercício com as técnicas comportamentais, que resulta na aderência ao Exercício a longo prazo e na conquista dos objetivos individuais (ACSM, 2000).
A prescrição do exercício constitui-se, assim, como um desafio constante para os profissionais do desporto que atuam nesta área do Exercício e Saúde - Diretor Técnico e Técnico de Exercício Físico, e requer uma formação especializada e atualizada no sentido de dar resposta adequada aos objetivos das populações-alvo, promovendo a atividade física como comportamento a adotar de forma continuada ao longo da vida.
Referências
ACSM. (2000). ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription (6th ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.
ACSM. (2013). ACSM's Guidelines for Exercise Testing and Prescription (9th ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.
Pedersen, B. K., & Saltin, B. (2006). Evidence for prescribing exercise as therapy in chronic disease. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 16(S1), 3-63.

Autora: Rita Santos Rocha.




 
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