Entre os anos de 1970 e 1990
ocorreu uma explosão nas ciências da nutrição no desporto e exercício,
especialmente no que se refere aos suplementos naturais, distinguindo o que era
considerado alimento saudável e não saudável. Os ‘não saudáveis’ possuem altos
teores de gordura saturada e colesterol, sendo diretamente a causa para
inúmeras doenças do foro cardiovascular; o açúcar, por causar caries e diabetes
tipo 2; o sal, por causar retenção de líquidos e hipertenção; por fim, os
edulcorantes artificiais, por estarem ligados ao surgimento de certos tipos de
cancro.
Nota: Ortorexia nervosa é a
obsessão patológica por ingerir exclusivamente alimentos saudáveis. O conceito
ortorexia provem do grego “orthos” que significa “correto” e “orexis” que
significa “apetite”. Literalmente significa “apetite correto”. O conceito é
semelhante ao de anorexia, isto porque tem o mesmo final – “orexis” –
“apetite”.
Surgiu então, entre os anos
70 e 90, um grupo cada vez mais numeroso de aficionados da saúde, que comiam
apenas aquilo que fosse mais saudável. Estes tinham boas intenções, e inicialmente
só tinham como meta reduzir a ingestão de carnes vermelhas, por exemplo.
Contudo, com o passar do tempo, tornavam-se obsessivos e excluiam
definitivamente a carne vermelha da sua dieta, todos os alimentos processados
e, finalmente, passavam a comer somente determinados alimentos que haviam sido
preparados de uma maneira altamente especifica. Este comportamento obsessivo
respeitante à comida saudável corresponde a um transtorno de alimentação
conhecido como ortorexia nervosa.
Ortorexia nervosa é a
obsessão patológica por ingerir exclusivamente alimentos saudáveis. O conceito
ortorexia provem do grego “orthos” que significa “correto” e “orexis” que
significa “apetite”.
Os sintomas e consequências da
ortorexia nervosa podem caracterizar-se por obsessões respeitantes a uma
alimentação saudável, desnutrição e, em último caso, morte por inanição. Quem
sofre deste transtorno manifesta desejos incontroláveis de ingerir este tipo de
comida quando estão nervosos, emocionados, felizes, ansiosos, angustiados.
Este transtorno, do mesmo
modo que a anorexia e a bulimia nervosa, representa uma séria alteração na
conduta alimentar. A atitude obsessiva de consumo baseia-se numa fixação acerca
da qualidade dos alimentos. De facto, os doentes dedicam a mesma quantidade de
tempo e energia a pensar nos alimentos como uma pessoa anoréxica ou bulímica.
Embora a anorexia
nervosa esteja associada a
um excesso de controle
de impulso, a bulimia nervosa está
associada com uma falta de controlo dos
impulsos. A ortorexia por sua vez, tem um pouco dos dois, isto é, um excesso e
um défice de controlo de impulsos simultaneamente. A grande diferença reside no
facto de, ao contrário da anorexia e bulimia, a ortorexia ainda não se encontrar
classificada como transtorno mental oficial em DSM 5.
A ortorexia não apresenta os
mesmos perigos psicopatológicos e fisiopatológicos que a anorexia e bulimia
nervosa. Contudo, a sua natureza restritiva pode servir como ponto de partida
para uma destas patologias no futuro. Por um lado, existem traços na
personalidade das pessoas com ortorexia e anorexia que são muito semelhantes
como, por exemplo, uma baixa autoestima, maus hábitos e comportamentos, falta
de controlo de impulsos, perfeccionismo, controlo excessivo do que o/a rodeia,
obsessões. Por outro lado, as dietas altamente rigorosas aumentam as
possibilidades de se sofrer de malnutrição, conduzindo a um típico quadro de
bulimia com compulsões e vómitos.
O primeiro estudo sobre a
ortorexia foi realizado com 400 estudantes no ano de 2004, do qual se concluiu
que 28 (6,9%) eram ortoréxicos, sendo mais presente nos homens. Este resultado
duplica a os números da anorexia e bulimia em conjunto. Organicamente falando,
tudo indica que se deve a alterações bioquímicas nas veias cerebrais produtoras
de serotonina (conhecida como 5-HT ou 5-hidrozitriptamina) nas pessoas que
sofrem de anorexia, bulimia e ortorexia. Estudos recentes nos quais foram
utilizados 5-HT concluíram que existem modificações no transporte e receção de
5-HT nas estruturas límbicas destas pessoas. Tais alterações estão intimamente
associadas à ansiedade, às inibições e desinibições comportamentais, e a
distorções da imagem corporal.
Tendo em conta o que foi dito
anteriormente, é importante que o desporto mude o seu núcleo operacional de
dentro para fora, de modo a evitar estas desordens. É importante ter em
consideração os falsos ideais estéticos que se criaram no desporto,
especialmente a sobrevalorizada importância dada à aparência externa. Desportos
e profissões como manequins, concursos de beleza, saltos de trampolim,
ginástica artística, ginástica desportiva, dança, patinagem no gelo, fitness e
culturismo, são os mais importantes.
Aqueles atletas que padecem
de ortorexia tendem a desenvolver as suas próprias regras e metodologias
alimentares. Para seguir com rigor estas práticas, estas pessoas fazem uso de
uma grande força de vontade, contudo, se perderem o controlo e cederem à
tentação dos alimentos proibidos, sentem-se incompetentes, culpados e
corrompidos. Este comportamento é semelhante nos doentes que sofrem de
anorexia, bulimia nervosa e vigorexia.
Finalmente, enquanto os
anoréxicos e bulímicos se preocupam com a quantidade de comida que consomem, e
os vigoréxicos pela quantidade de exercício que realizam, os ortorexicos ficam
obcecados com a quantidade de comida que consomem. Por tudo isto, é muito claro
que à medida que os anos passam a incidência da psiquiatria no desporto é cada
vez mais importante e generalizada.






