domingo, 18 de septiembre de 2016

CrossFit: O perigo de não levantar pesos...

Enquanto aguardava a minha vez numa fila de caixa de supermercado, observava a dinâmica de uma família de pai, mãe, filha e filho. Todos já com evidente excesso de peso. As crianças com idades prováveis entre os 12-14 e os 6-8 anos respetivamente. O pai preparava-se para pagar. A mãe ia colocando as compras no tapete. A irmã tentava pegar no irmão ao colo e o irmão contorcia-se todo com a força que podia para a impedir de o levantar do chão. O movimento e barulho da refilice entre irmãos chamaram a atenção da mãe que imediatamente se voltou para trás e gritou à filha: “larga o teu irmão que ainda dás cabo das costas!”

Mal sabe esta mãe que a origem do levantamento de pesos acompanha a própria evolução humana e que provavelmente terá sido uma atividade fundamental para a nossa sobrevivência enquanto espécie. Ter força pode significar apenas a capacidade que o nosso corpo tem para se mexer de forma funcional. Mas não apenas com o peso do próprio corpo, transportando também cargas externas.

A ideia de que “pegar em pesos faz mal” ou “lesiona” instalou-se nas sociedades modernas e industrializadas. O que até tem dado imenso jeito, diga-se: as compras de supermercado deixaram de ser carregadas para serem contratados os serviços de entrega ao domicílio; os elevadores justificam-se em prédios muito altos mesmo para os vizinhos dos primeiros andares; as crianças de colo são empurradas em carrinhos porque os pais não têm força para as transportar e porque a pé são demasiado lentas; os seguranças dos centros comerciais andam em trotinetes motorizadas para se pouparem aos quilómetros que poderiam andar diariamente; e podíamos continuar com os milhares de exemplos que ilustram a promoção da inatividade física nos dias de hoje.

A fragilidade da maior parte da população traduz-se, cada vez mais cedo do que tarde, em doença e vidas altamente condicionadas. Muitas quedas (em jovens, adultos e seniores) não são provocadas por pavimentos irregulares ou ligeiros desvios. Resultam de articulações altamente instáveis incapazes de resposta adequada perante imprevisibilidades deste género. Ou seja, da falta de força. Uma pessoa forte cai menos e, quando cai, magoa-se menos. Uma pessoa mais forte não destrói as costas por estar muitas horas sentada todos os dias. Uma pessoa forte não se lesiona se pegar mal numa carga pesada de vez em quando.

Depois da hipertensão, da diabetes e do tabaco, a inatividade física é adiantada pela Organização Mundial de Saúde como a quarta causa de morte prematura no Mundo. Por outras palavras: a inatividade e a consequente fraqueza matam!

Mas afinal o que é ser forte? Sem recorrer à imensa literatura sobre o assunto e simplificando as coisas, arriscar-me-ia a considerar três categorias nada científicas mas muito práticas: a força razoável, a força boa e a força ótima.

Razoavelmente forte será aquela pessoa que ainda é funcional na sua vida do dia a dia. É neste estado que estão algumas das pessoas que começam a treinar connosco. Mesmo aquelas que já frequentam alguns dos programas de fitness existentes no mercado ou andam em grupos de corrida ou de bicicletas. Mas para se ser saudável, o razoável não chega! 

Se medíssemos em quilos a capacidade de força destas pessoas, não chegaríamos aos níveis mais baixos de qualquer tabela de força publicada na literatura sobre a matéria. Geralmente, são necessários 6 a 12 meses de treino de força regular (pelo menos três vezes por semana) para que estes nossos atletas iniciados atinjam níveis mínimos de força que permitam garantir a sua saúde. Ou seja, a sua qualidade de vida.

Um nível de força bom só se atinge treinando para isso! É necessário um plano de treino estruturado, orientado e acompanhado por profissionais capazes de ir adaptando os protocolos à própria evolução de cada um. A maior parte dos nossos praticantes consegue atingir bons níveis de força. Uns em apenas um ano, outros levarão 10 anos a lá chegar! Mas também ninguém corre atrás de nós e o mais importante é mantermo-nos ativos para o resto da vida.

Uma força ótima tem como termo de comparação a generalidade da população. Um homem de 77Kg com um Snatch de 80kg e um Clean & Jerk de 100Kg, na nossa Box, é forte! Mas para esta categoria de peso, os recordes mundiais destes levantamentos, batidos nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, foram 177 Kg (Lu Xiaojung – China) e 214 Kg (Nijat Rahimov – Cazaquistão) respetivamente. Ou seja, o termo de comparação deve ser sempre o praticante comum e não atletas de alto rendimento de alguma modalidade. 

Dou muitas vezes por mim a explicar aos nossos alunos mais recentes que é mais fácil “magoarmo-nos” a manipular cargas leves do que cargas muito pesadas. E a explicação é simples: porque para levantar cargas pesadas implica muita técnica. Mais do que força. E para ter técnica é preciso treinar regularmente e toda a vida. E treinar assim torna-nos mais fortes.

Testar a capacidade de produção de força humana é uma atividade que acompanha a história do próprio Homem. Não sugerimos que todos nos transformemos em halterofilistas ou “strong man”! Mas que consigamos garantir capacidades tão básicas como a marcha, o sentar e levantar ou subir e descer, sozinhos ou transportando cargas externas. Se para jovens e adultos a força é importante, para seniores é vital.

Até porque uma das capacidades que a força nos dá é precisamente a de executarmos “maus” movimentos sem nos magoarmos. Entenda-se, pegar no irmão de 6-8 anos ao colo sem “darmos cabo das costas”.

Leonor Madeira

 
Gym Factory Portugal © 2014 gymfactory.net & Gym Factory . ...