De acordo com o mais recente
relatório IHRSA Global Report, o mercado europeu mantém-se como a região mais
rentável com um grande número de instalações de fitness e bem-estar (wellness).
A Europa gera aproximadamente 25 biliões de euros em proveitos num total de 48
000 clubes com cerca de 44 milhões de utentes.
Em
geral, os relatórios indicam que a economia europeia está sofrendo uma recessão
temporária, e não uma grande recessão como se pensava num primeiro momento. A
somar à grande taxa de desemprego patente nos países da região, “em Portugal,
Irlanda , Grécia e Espanha, o impacto foi significativo”, afirma Hans Muench,
director europeu da IHRSA. Itália foi afectada com o encerramento de centenas
de clubes. Em Espanha, a incerteza económica afectou duramente a confiança dos
consumidores, aponta Angeles de Santiago, da empresa de consultoria Managenemt
around Sport. “Os espanhóis têm medo de gastar, preferem aforrar e correr ao ar
livre em vez de pagar uma quota mensal para frequentarem um clube desportivo”,
diz.
Como
resultado, muitos clubes em Espanha baixaram os seus preços e “isso é algo que
não tem retrocesso”. Para os colaboradores dos clubes, este facto reflectiu-se
numa baixa dos seus salários e, em muitos casos, na redução do número de
funcionários. Além disso, acresce o encerramento de muitos clubes de tamanho
médio, quando não conseguiam captar clientela.
Uma
contracção dos custos semelhante à espanhola sucedeu no mercado alemão, observa
Jasmin Kirstein, gerente e proprietária do My Sportlady Fitness, em Munique. “É
um desafio quando as pessoas não vêm vantagens na inscrição num centro desportivo,
já que consideram que podem ter os mesmos benefícios sem gastar tanto dinheiro,
realizando outro tipo de actividades. As pessoas têm pouco tempo, entre o
trabalho e a família, e não têm tempo para ir ao ginásio. Está nas nossas mãos, como operadores dos clubes, fidelizar os nossos
sócios, mantê-los felizes e motivados oferecendo programas adequados de
treino”.
Hans
Muench prevê que os “ratios” de penetração nos consumidores vão subir,
principalmente no leste da Europa, onde menos de 5% da população frequenta
clubes desportivos. Além disso, prevê que centenas de instalações na região vão
fechar ou mudar de proprietários, como resultado das dificuldades económicas,
altas taxas de desemprego e impostos muito elevados nos clubes.
O indiscutível impacto de
impostos elevados
Em
muitos países europeus, as actividades fitness e wellness são consideradas como
actividades “extra” para os governos (e não actividades essenciais). É por isso
que as penalizaram com impostos excessivos que se reflectem nos preços aos
utentes.
Na
Europa, 23 países aplicam impostos acima de 20%.Hungria é o mais alto com 27%,
Luxemburgo o mais baixo com 15%, enquanto outros paises registam impostos entre
18 e 20%. Nas instalações desportivas o imposto oscila entre 6% na Bélgica até
21% ou mais no Reino Unido, Itália, Espanha, Portugal e Roménia. Grécia aplica
23% e a Alemanha 19%. A aplicação de IVA reduzido varia, dependendo do país.
Vários aplicam-no a serviços específicos.
Por exemplo a Bélgica aplica 6% de IVA em alguns serviços, enquanto que
as quotas dos clubes são taxadas a 21%. Por outro lado, na Noruega não existe
nenhum imposto nem para as quotas nem para os serviços extra. Este facto de
penalizar com impostos excessivos o sector criou o ambiente de recessão e
desemprego que se vive actualmente.
Por
exemplo, em Portugal o IVA passou de 5% para 23% em 2011. Como resultado, a AGAP
( Associação Portuguesa de Ginásios) publicou um númetro alarmante:
aproximadamente 100 000 pessoas deixaram de utilizar instalações desportivas no
ano seguinte ao aumento.
Espanha
sofreu um aumento de impostos de 18% para 21%, (sem levar em conta o IVA
reduzido que se aplicava), pelo que na IHRSA se estima que está sucedendo algo
parecido com o que se passou no país vizinho. Além da preocupação com a redução
do número de utentes e o encerramento de instalações em todo o país, prevêm-se
problemas graves na saúde e qualidade de vida das pessoas.
Principais mercados
O
mercado europeu trabalha para a recuperação, mas alguns países são mais rápidos
que outros. Entre os líderes podemos destacar a Alemanha, que mantem
crescimento em certos sectores e se destaca no seu exercício de 2012. De acordo
com a Associação alemã de fitness e wellness , conhecida como DSSV, o número de
clubes incrementou com mais 262 instalações, passando de 7304 em 2011 para
7566, e o número de utentes passou de 7,6 milhões para 7,9 milhões.
A
IHRSA identificou algumas directivas que contribuiram para esta tendência. A DSSV tem notado o aparecimento de pequenos
estúdios definidos como micro-ginásios, que se especializam em actividades ou
serviços específicos, normalmente com uma superfície de 200 m2. A Alemanha viu
a necessidade de especialização para públicos específicos, com programas
definidos orientados para a saúde, programas de treinos para trabalhadores nas
empresas, ou os orientados para populações específicas como mulheres, crianças
e população senior. Os consumidores estão a dar uma maior importância a
serviços de qualidade com profissionais qualificados.
Outro
país líder no sector é o Reino Unido, que teve um crescimento de 1,5% chegando
aos 4,79 biliões de euros, num período de 12 meses até março de 2013, segundo o
Relatório da Indústria do Reino Unido e do The Leisure Database Company. O
relatório indica também um incremento de 2% no número de clubes e 4,5% no
número de utentes. A região conta com 6109 instalações ( 5900 no ano anterior).
Apesar
do crescimento actual ser considerado como de realçar, algumas pessoas da
indústria estão preocupadas com o facto de a maior parte do crescimento se
dever a instalações low-cost, que continuam o seu processo de expansão com
prejuízo dos clubes tradicionais. Como resultado directo, os low-cost estão a
afectar o preço das quotas mensais e os “ratios” por membro em toda a
indústria.
Mercados que lutam
Há
muitos países que se encontram afectados em todo o continente com a crise que
começou em 2008. Em Itália, os cidadãos estão a suportar um grande período de
recessão. Sem dúvida que a indústria do fitness e wellness sentiu esta crise e
nos últimos 18 meses o número de clubes que fecharam supera o número dos que abriram, e os
proveitos foram afectados (tanto de quotas como de outro tipo). Existe um
número estimado de 4,2 milhões de sócios repartidos por 6500 instalações, sendo
que existiam 5 milhões de utentes em 7500 instalações, em 2010.
Junto
com a Itália, como país mais afectado, estão Espanha, Grécia e Portugal. Todos
eles assistiram a um decréscimo de 20% nos indicadores de quotas, tamanho do
mercado e número de clubes. Outros mercados, como França, Chipre, Finlândia e
Eslovénia, fazem o possível para não cair num grande período de instabilidade.
Armando
Moreira, Vice-Presidente da AGAP assegura que “o maior desafio em Portugal está
em ultrapassar a crise e encontrar as políticas adequadas para gerar emprego e
riqueza”. Nos últimos 5 anos o crescimento do país viu-se diminuído pela alta
taxa de desemprego (passou de 7,6% para 17,8%), além dos mais de 100 000
cidadãos que sairam do país anualmente.
Em
Portugal, os clubes continuaram com o mesmo modelo de negócio, diz Moreira. “A
grande maioria das instalações de fitness guiaram-se pela mesma linha de
negócio nos últimos anos, com o mesmo tipo de produtos e serviços. Basicamente,
os clubes estão a vender uma mesma proposta (com todos os serviços incluídos),
à mesma população (taxa de penetração sem alteração e que se situa nos 5%),
sendo mais difícil persuadir e atrair novos utentes. A percepção do valor do
serviço baixou gradual e perigosamente, pondo em causa a sobrevivência de quase
70% das instalações do país, acumulando perdas em cada exercício”
Autor: Jorge Rosales.
Autor: Jorge Rosales.