sábado, 23 de julio de 2016

CrossFit: começar pelo princípio é sempre uma opção mais inteligente...

Imagine-se entrar numa sala completamente às escuras. Apesar de não ver nada, durante os próximos 60 minutos vai sentir uma atordoante azáfama. Um caos onde apenas todos os outros parecem orientar-se. Estremece e encolhe-se com a vibração de muitos quilos em queda livre descoordenada. Assusta-se com respirações ofegantes de quem parece estar prestes a morrer. E às tantas já nem percebe se deve subir, descer, rodar, puxar ou empurrar... Apesar do enorme desconforto físico e psicológico, deixa-se contagiar pela intensidade do momento e faz... 

Assustador, não é?  Mas é exatamente assim que muitos se iniciam no CrossFit. Por incrível que pareça, das experiências mais maçadoras para um instrutor de uma Box é precisamente esta coisa de ter que explicar o óbvio: TODOS devem começar pelo princípio! Independentemente da relação e/ou experiência que tenham - ou não tenham - com a atividade física e/ou o Desporto. 

Cada Box deve desenhar o seu programa de introdução ao CrossFit – o Foundation ou On Ramp. Apesar de poderem assumir diferentes formatos, devem respeitar os mesmos conteúdos: 

(a) A nossa saúde começa nos nossos comportamentos alimentares;
(b) O enquadramento num modelo de saúde tridimensional (Doença-Saúde-Fitness) onde os indicadores clínicos se cruzam com outros facilmente mensuráveis: força, resistência cardiorespiratória, velocidade, potência, mobilidade, equilíbrio, coordenação, agilidade, flexibilidade e precisão;
(c) O espírito de Comunidade e Identidade que resulta de um ambiente altamente inclusivo e acolhedor, onde os egos se deixam sempre de fora. 

O nosso Foundation é um programa de 3 horas onde a prática é intercalada com alguma teoria. Começamos por explicar o que nos distingue de outros programas de fitness, de onde vem a nossa abordagem à saúde e como promovemos a qualidade de vida. Explicamos que o CrossFit (1) não inventou o corpo humano nem a ginástica, mas é a esta modalidade que recorre para avaliar, analisar, explorar e potenciar as capacidades de movimento de cada pessoa; (2) também não inventou o halterofilismo, mas é através desta modalidade que ajuda o corpo a aprender e/ou reaprender a manipular cargas externas; (3) nem tão pouco descobriu os processos metabólicos do nosso organismo, mas procura estimular e recrutar todos aqueles que se conhecem. Ou seja, o que torna o CrossFit inovador não é o que faz mas o como faz, através da combinação destas três dimensões em soluções quase inesgotáveis.

De volta à prática, vamos explorar o trabalho calisténico (peso do corpo). Reconhecemos as particularidades e capacidades de cada participante e fazemos o primeiro WOD (Workout Of The Day).  Sentida “na pele” a alta intensidade dos nossos treinos, reconhecem a sua dimensão relativa: cada um dá o que consegue dar.

Voltamos a sentar-nos e falamos da base do CrossFit: a nutrição. Porque somos aquilo que comemos e o que comemos determina o que treinamos e como recuperamos. Garantimos a todos que este é um tema sempre presente no dia a dia da nossa Box e que, quase sem darem por isso, entrarão naturalmente num processo de mudança de hábitos alimentares.

É altura de nos pendurarmos nas barras e de “treparmos paredes”. Em menos de duas horas já muitos se superaram: “Eu nunca tinha feito isto na vida...”. Nesta altura é frequente notarmos uma confiança crescente nos nossos participantes: “olha... e não é que eu até sou capaz de fazer estas coisas?” Mais cinco minutos de intensidade e, surpreendentemente, mais competências reveladas.

Voltamos a sentar-nos para conversar e ingerir o snack do meio da tarde que sugeríramos trazerem. Passamos ao trabalho com cargas externas onde o transportar o máximo de carga ao longo da máxima distância no mínimo tempo possível pode ser uma boa forma de revelar a condição física de cada um. Recorremos às Kettelbell (KTB) para ensinar movimentos básicos mas nada simples: Deadlifts, Cleans, Squats e Presses. Os nossos participantes entusiasmam-se com o desafio do trabalho técnico e atiram-se ao terceiro WOD.

Resta-nos explicar como é que tudo aquilo de que já falámos e experimentámos se conjuga. Estamos finalmente prontos para compreender a dinâmica de uma Box de CrossFit: (a) onde ninguém é melhor nem pior do que ninguém; (b) onde o processo é sempre mais importante do que o resultado; (c) onde não há rotinas e todos nos preparamos seja lá para o que for e quando for; (d) onde os treinos respeitam as particularidades de cada pessoa e por isso são sempre personalizados através de progressões e/ou alternativas; (e) onde se formam pessoas para que sejam mais autónomas na tomada de decisão sobre a sua saúde e qualidade de vida; (f) onde o papel na nutrição e do descanso/recuperação são constantemente realçados; (g) onde os resultados são diariamente apontados numa das paredes da Box para que possamos ter consciência da nossa prestação e evolução; (h) onde se desenvolve um espírito competitivo muito saudável e divertido entre todos; e (i) onde sabemos não existirem atalhos. Porque sem esforço não há resultados! 

Pegamos em tubinhos de PVC e começamos a explorar progressões dos mesmos movimentos que iniciámos nas KTB. Dependendo do grupo de participantes ou de cada participante em si, os PVCs podem ou não ser substituídos pelas barras olímpicas. Em pouco mais de duas horas e meia, torna-se evidente que começando pelo princípio é possível pegar corretamente numa barra e garantir a segurança no treino. Último WOD.

O cansaço já se faz sentir. Muita atividade física e muita informação a digerir. Assumimos que, tal como a vida, o CrossFit não é fácil mas é uma aventura onde o esforço, a dedicação e a persistência têm resultados altamente compensadores. 

É muito frequente atletas nossos quererem repetir o Foundation vários meses depois da sua iniciação. Porque lhes apetece, porque sentem a necessidade de voltar a ouvir algumas coisas que uns meses depois farão ainda mais sentido e/ou porque vão acompanhar amigos, colegas ou familiares que assim se juntam à nossa Comunidade! Gostamos que sejam eles próprios a encerrar o programa com os seus testemunhos sobre o seu primeiro Foundation e os últimos meses de treinos na Box. Afinal, quem melhor do que os nossos atletas para descreverem o que é a nossa Comunidade e o que significa o CrossFit nas suas vidas?

Leonor Madeira
Gerente da IronBox CrossFit Alfragide
Mestrado em Psicologia do Desporto (FMH - Universidade de Lisboa)

CV
Gerente da IronBox CrossFit Alfragide
Instrutora de CrossFit (Level 1, Level 2)
Equipa Técnica de Kickboxing na qualidade de Preparadora Física 
Instrutora de Treino Personalizado e Aulas de Grupo
Mestrado em Psicologia do Desporto (FMH - Universidade de Lisboa)
Licenciada em Antropologia (ISCSP - Universidade de Lisboa)
Dança contemporânea e ballet moderno
Ex-atleta federada de Vela, Natação, Natação Sincronizada e Kickboxing
Atleta federada de Halterofilismo

 
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