viernes, 17 de abril de 2015

O FIM DOS GINÁSIOS? INOVAR NÃO É FAZER DIFERENTE OU VER PRIMEIRO, É FAZER MELHOR

Os únicos «velhos do Restelo» que admiro são os meus pais. Porque já o são e porque por lá moram. Costumo ser pouco condescendente com a modorra típica dos autoproclamados vencedores da nossa praça. Essa letargia rotineira de uma espécie de burguesia instalada que julga ter conquistado o seu (merecidíssimo) lugar no Olimpo. Não há lugar para eles no nosso sector, o passado demonstra-o e o presente confirma-o.


Vem a propósito do título escolhido, dirão populista, admito provocador, uma antiga discussão ocorrida no decurso de uma reunião da equipa técnica do nosso ginásio. Calendarizávamos o plano de actividades para o ano seguinte. Abundavam as aulas e eventos ao ar livre (a que pomposamente chamamos outdoor), havia programas para todas as idades e para todos os gostos, quase tantas como as que prevíamos para dentro do ginásio. Estávamos em 1996!  
Uma jovem professora questionou-me: «Mas isso não é o fim do ginásio? Se podem fazer tudo na rua porque nos virão procurar?» Não me recordo do que lhe respondi na altura, mas sei que foi uma das mais entusiastas e dinamizadoras das actividades «fora de portas». Sei também, que passados todos estes anos continuo a reflectir sobre estas e outras nossas dúvidas e incertezas. 
Conhecemos a nossa odisseia, da Grécia antiga ao «homem mais forte do mundo» no séc. XIX, dos clubes de bairro às grandes cadeias, e, mais recentemente, dos ginásios de género aos de preços baixos (por alguns chamados low cost). Mas de todas as fases porque passámos, há uma que me seduz particularmente. Quem já não se deliciou com as fotografias a preto e branco dos transatlânticos de luxo do início do séc. XX, com os seus afortunados passageiros exercitando-se no ginásio de fato completo e vestido comprido, chapéu na cabeça e salto alto no pé? Sim, a nossa odisseia é antiga, cheia de acontecimentos extraordinários, nem sempre de grande virtuosismo e elegância é certo, mas sempre dotada de um espirito muito prático. É aqui que entronca a minha reflexão antiga e a minha atracção pelos transatlânticos.
Numa assumida perspectiva darwinista, parece-me indiscutível que em determinados momentos da evolução do nosso sector foi decisiva a necessidade de acomodar uma particular exigência do mercado – a dificuldade, em muitos casos impossibilidade, de praticar exercício físico em espaços abertos. Os navios das grandes travessias são um bom exemplo, mas podíamos igualmente acrescentar as prisões e os aglomerados urbanos de invernos rigorosos. O mercado cresceu, os desafios também, e o sector evoluiu. Sabemos de muitos outros motivos por que floresceram os espaços fechados de exercício físico, mas o que interessa à nossa discussão é essa evolução de fora para dentro. 

Regressemos às dúvidas da jovem professora. Se admitimos que o conceito moderno de ginásio se funde também nessa oposição espacial, é pertinente considerar que a dinamização de actividades que induzem à prática de exercício físico ao ar livre pode significar uma menor necessidade, e consequente menor procura, de espaços como os nossos. Vislumbramos o nosso fim? 
Passaram-se 18 anos, a professora já não é tão jovem e eu muito menos. Não me recordo da resposta de então, mas sei a que gostaria de dar hoje. O fim está tão perto como o início, depende muito de nós. Muitos contraporão com os imponderáveis da vida, da sorte e do infortúnio, e das «mãos invisíveis» do mercado. Concordo, até acrescentaria outras mãos bem visíveis da economia moderna e que Adam Smith não previu. Mas a decisão de estar lá, tanto no início como no fim, é nossa.

É aqui que chego à inovação, propondo-vos uma adaptação ao nosso sector do sentido etimológico do vocábulo. Se me permitem este primeiro atrevimento, peço-vos paciência para um segundo - considero-me de 2ª geração, isto é, na história moderna dos ginásios em Portugal temos os pioneiros que vêm da década de 70, dominaram nos anos 80 e viram surgir uma nova linhagem na década de 90. Alguns dos pioneiros ainda por cá andam, pelo que testemunharam a emergência da 3ª geração no início deste século e a 4ª já nesta década. Esta sequência geracional caracterizou-se muito por processos de afirmação identitária, mas evidenciou também uma dinâmica inovadora muito vincada. Retomo então a apropriação do significado de inovação, não no sentido de fazer diferente ou de criar qualquer coisa nova, mas de fazer melhor, de melhorar o que a geração anterior já tinha feito melhor que as antecessoras. De facto, como muitos têm vindo a afirmar, a minha geração e as que lhe seguiram não inventaram nada, em bom rigor nem a primeira. O Pilates vem do primeiro quartel do século passado e o Treino Funcional é secular. Mas a roda que génios antigos inventaram não conseguiria fazer descolar um avião de 200 passageiros… foi o engenho de génios modernos que melhorou a genialidade antiga. De certa forma, é isso que temos feito.

Quando estudei na Faculdade de Motricidade Humana, as actividades desenvolvidas nos ginásios eram consideradas de 2ª ou 3ª divisão no que se refere ao reconhecimento do seu interesse para o exercício e saúde. Estou a ser simpático - na verdade eram simplesmente proscritas. Hoje têm unidades curriculares próprias. Quando o nosso ginásio abriu não me recordo de alguém nos ter procurado por indicação médica. Hoje são às dezenas e com prescrição dirigida. Fomos nós que instituímos as avaliações de condição física sistemáticas, que desenvolvemos adequados e personalizados programas de exercício físico, que recrutámos a prescrição nutricional especializada como complemento dessa actividade. Muitos dos nossos ginásios instituíram modelos e protocolos de monitorização e acompanhamento desses programas que não têm paralelo em qualquer outro sector ligado ao exercício, incluindo a chamada «alta competição».

Tudo isto porque quisemos melhorar o que herdámos dos nossos antecessores. Se aceitarmos este desafio então estaremos sempre mais perto do início e mais longe do fim. Talvez tenha sido isso que respondi à jovem professora, é preciso arregaçar as mangas e fazer melhor, não há que ter receio de voltar ao princípio, complexos do que já foi feito. Se o outdoor, o Pilates e o Treino Funcional antecederam os ginásios modernos, nada temos a temer de lá regressar. O importante é fazê-lo ainda melhor. 

Inovemos! É o que temos feito bem.


 
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