Portugal é um país formidável, com boa gente, de costumes simpáticos e onde, felizmente, a sociedade coabita de forma pacífica e agradável. São estes os recursos preciosos que nos distinguem enquanto nobre povo nesta Europa, onde cada país segue numa velocidade diferente.

Entre ricos e pobres, loiros e morenos, mais ou menos activos, cada sociedade leva um percurso distinto e apresenta-se com argumentos próprios para vencer na sua província, região ou país, em função da cultura, clima e estágio de desenvolvimento.
No fitness, a primeira cadeia apareceu em Portugal no ano de 1998, levando já, nessa altura, uma curva de aprendizagem de 20 anos no Reino Unido. O principal operador europeu de low cost foi fundado em 1997 na Alemanha mas aterrou em Espanha apenas em 2009. Portugal recebeu o seu primeiro conceito de low cost apenas em 2011.
Pode parecer uma contradição, mas gostaria de realçar, primeiramente, dois aspectos sobre o sector no nosso país:
1. A “indústria” do fitness é ainda jovem.
Bastará averiguar se algum dos nossos avós ou pais frequentaram um ginásio no seu tempo de juventude ou crescimento profissional. A resposta não é difícil. Crescemos muito e rápido enquanto sector, em pouco mais de 20 anos. Todos sabemos também, que o crescimento vertiginoso é quase sempre sinónimo de falta de consolidação. Além do mais, atraímos ainda poucos profissionais de outras áreas de negócio para dinamizar e aumentar a competitividade no fitness, seja por via de mais marcas e mais fortes ou por estruturas mais organizadas e especializadas. O facto de “importarmos” modelos de negócio com algum atraso mostra também esta juventude.
2. A “indústria” do fitness apresenta características de declínio.
Desde o início deste século que vivemos um período em que adormecemos sobre a ilusão da enorme capacidade de geração de cash-flow e ebitdas positivos. Porém, nem sempre tudo o que reluz é sol e, garantidamente, não dura para sempre. A escassa inovação nos produtos e modelos de negócio, a pouca diferenciação do serviço, o excesso de oferta (em contextos mais urbanos) e a guerrilha dos preços são todos eles sintomas dessa fase.
Mas, afinal, haverá aqui alguma contradição? Pessoalmente julgo que não. Somos uma indústria jovem, com imensas oportunidades de crescimento, mas que apresentou características que a conduziram a este estado de debilidade. Por mais rude que isto possa parecer (e é), é muito positivo um forte abalo para nos alertar da necessidade urgente de produzir algo mais que medidas correctivas. Requerem-se profundas transformações na visão e gestão.

Quem não se lembra da Nokia? E quem conseguiria prever tal desfecho que levou à sua “extinção” enquanto marca de referência?
Regresso atrás no tempo para referir o exemplo dos clubes só para mulheres. Em 2001 inaugurou-se o primeiro clube em Portugal, abrindo a porta a um novo nicho de mercado que rapidamente alcançou uma quota de 20% em número de clubes em poucos anos, desde operadores nacionais e internacionais a vários investidores que procuravam singrar. A construção civil em Portugal também chegou a atingir 12% do PIB nacional, quando a média europeia ronda os 4%... Ora, os mercados são impiedosos e insensíveis a estas flutuações e, no final, o “pó acaba todo por assentar”, seja na construção ou no fitness.
Entre os não-vai-chegar, não-crentes, não-é-para-mim, não-funciona, havia de tudo um pouco. Mas o fenómeno low cost chegou, deixou de ser tabu e hoje já não é preciso sussurrar quando falamos deste tema. Inclusive, vemos uma corrida à obtenção de locais para a instalação de um low cost como forma de preencher e dominar território. Mas, infelizmente, não nasce petróleo em todos os locais! E, mesmo que nasça, pode não ter o mesmo resultado. Veja-se o caso da Noruega versus Venezuela… a melhor nação do mundo para se viver versus uma República em permanente exaltação.
As reservas de petróleo, pelo menos por enquanto, não são uma preocupação para a nossa geração e, mesmo assim, assistimos (sem grande sucesso, diga-se!) a que alguns já inventam soluções diferenciadoras. Apesar do enorme grau de crescimento que temos no mercado da saúde e fitness, nem todo este crescimento será feito à custa do low cost, podendo, no entanto, chegar a alcançar quotas na ordem dos 50%!! O sector low cost nos EUA representa 37% do total de clubes, enquanto no RU metade dos novos clubes que abriram em 2011 foram deste segmento.
Neste seguimento, estamos perante um novo ciclo que, uma vez mais, vai por à prova toda a nossa capacidade enquanto líderes. Este dilema entre crescimento e sustentabilidade é a equação que todos os empresários devem analisar, estudar e compreender. Será o exame final do nosso MBA à frente dos clubes em que o júri é muito exigente, racional e desconfiado.
Mesmo para quem anda desatento, não acredito que seja possível evitar o que se passa com o envelhecimento da população e das necessidades que faltam acoplar a este mercado emergente bem como da falta de saúde que muitos portugueses sofrem e cujas soluções passam por nós. Contudo, a abundância de petróleo, entenda-se oferta, é um factor crítico para o êxito dos negócios e convém não desprezar. Se algumas regiões têm em excesso, outras apresentam deficit e aí reside o repto… é claro que há muitas rochas orgânicas mas nem todas se convertem em jazidas de petróleo.

Os mercados são fascinantes. Empreendedorismo e gestão, dois conceitos nucleares para o desenvolvimento das sociedades e que, literalmente, movem países, economias e empresas, são tão ou mais importantes, quanto mais desafiantes são os tempos e mais oportunidades surgem. No meio de todo este vórtice, é claro que, vamos falhar umas vezes e ganhar outras. Mas o importante é seguir aprendendo (e rápido), amadurecendo como profissional, respeitando o nosso concorrente e nunca perdendo o foco pelo cliente.