As tendências do mercado do Fitness acompanham as tendências da “evolução” da sociedade. Cada vez mais constatamos uma crescente individualidade social, caminhando para uma vida mais isolada de pessoas e acompanhada de tecnologia. Será mau? Não, mas reforçava a importância/necessidade crucial de uma educação que nos permite saber distinguir o que complementar e o que substituir.
Com certeza que nunca se deve substituir um profissional da Atividade Física e Saúde por uma App. Um profissional competente, de atuação responsável, permanentemente em formação, disponível, focado no cliente, orientado para potenciar a performance de cada um.
Com certeza que nunca se deve substituir um plano de treino individualizado, prescrito especificamente para si, por um plano de treino geral com foco apenas no objetivo sem ter em atenção a individualidade do seu corpo, as suas reais necessidades, capacidades físicas, predisposição emocional e motivações associadas à prática de Atividade Física.
Enquanto profissional da área sinto a responsabilidade de consciencializar para a necessidade de marcamos a diferença nos serviços que prestamos aos clientes. Não queremos ser mais um, mas sim profissionais que vão mais além do que o seu título.
Devemos estar cientes que somos modelos poderosos, que podemos inspirar e motivar as pessoas a atingirem um outro nível de condicionamento físico. Temos a missão de influenciar positivamente as pessoas para aquisição de hábitos de vida ativos e mais saudáveis.
Mas como é que conseguimos fazer isso? Conhecendo, ouvindo, estando disponíveis para os nossos clientes.
Podemos verificar uma crescente oferta de Health Clubs que abdicam, conscientemente, destes serviços em prol do seu modelo de negócio. Como em contrapartida, constatamos Health Clubs que reforçam a importância do serviço ao cliente, aprimorando a qualidade do processo da Avaliação Física, da prescrição individualizada, do acompanhamento permanente em sala, da formação constante dos seus profissionais, no “Customer lifetime value”.
Segundo IRSHA (2015) devemos fornecer um serviço excecional ao cliente, a fim de melhorar a experiência de cada sócio e certificar que estão convenientemente integrados no clube. Tendo entendimento que o tempo com os clientes é extremamente importante, precisamos de criar uma experiência positiva aos mesmos para os manter satisfeitos, entregando o que eles necessitam e têm como expectativa durante a sessão de treino, pois o primeiro passo para fidelizar com êxito os clientes é conhecer em profundidade o seu valor.
A Avaliação Física é um aspeto chave, que nunca deve ser descurado pelos profissionais da área. É o primeiro contacto do cliente com a área técnica, culmina com o pico da sua motivação após a inscrição num clube e deve ser tratada com todo o respeito e o maior profissionalismo.
Permite-nos conhecer efetivamente o nosso cliente, as suas expectativas relativas à prática da atividade física e devemos estar preparados para esclarecer questões sobre a mesma. Quanto mais informado e confiante estiver o cliente, maior a probabilidade da experiência de treino ser positiva, refletindo-se numa permanência maior no clube e, como tal, mais anos de prática de atividade física, logo uma população mais ativa.
A Avaliação Física é, efetivamente, o instrumento certo no processo de obtenção, aplicação e delineação de informações descritivas de julgamento sobre a capacidade física funcional e de proporções morfológicas que visam um perfil global do condicionamento físico do sócio, para interpretação e análise dos dados obtidos (Molinari, 2000). Devemos ainda compreender as necessidades pessoais, histórico de saúde para prescrever o treino de forma adequada e segura.
Todos os dados recolhidos no processo de avaliação (Par-Q, definição de objectivos, anamnese, estratificação de risco, avaliação da composição corporal, testes físicos) permitem-nos definir o calendário de prescrição de treino (planeamento das reavaliações) e a prescrição de treino específica para o sócio em particular (respeitando as Guidelines de treino, adequando à particularidade de cada um), eficaz e seguro. Devemos igualmente clarificar os sócios sobre os benefícios da prática do exercício físico e dar uma estimativa em relação ao tempo previsto para alcançar os seus resultados, orientando-o no delineamento de metas, face ao compromisso assumido.
Para que este processo se desenrole é fundamental o acompanhamento de profissionais especializados durante as sessões de treino. Podemos ir do mais particular e específico, sessão de treino personalizado, para o geral, o acompanhamento em sala. Mas abdicar deste serviço é que não é opção.
Enquanto profissional está nas “minhas mãos” criar o valor acrescentado, diferenciador face à ausência de acompanhamento. Devo assegurar um bom acolhimento aos sócios, respeitando os princípios da competência, legitimidade, disponibilidade e flexibilidade. Garantir uma demonstração e explicação do seu plano de treino eficaz, instruindo de forma clara e precisa.
Manter controlo na dinâmica da sala, acompanhando os sócios durante o treino, garantindo dicas de execução e correções técnicas de valor, pois devemos ter sempre presente que se trata da saúde dos nossos clientes.
Acreditar que somos substituídos por “nada/ausência de serviço” é realmente frustrante. Mas mais frustrante que isso é perceber que, quando temos a oportunidade de acrescentar valor, não o fazemos e comprometemos o futuro da nossa profissão.
Sabe-se que a maior prevalência dos cancelamentos num clube de Fitness é causada pela atitude ou indiferença do staff (68% aponta má experiência com os instrutores de fitness), e que clientes insatisfeitos delatam o nosso serviço entre a 9/12 amigos e apenas clientes satisfeitos promovem o nosso serviço entre a 4/5 amigos (IHRSA, 2011).
Portanto, é fundamental o acompanhamento em sala, uma avaliação física idónea, uma prescrição de treino individualizada, para assegurar a qualidade de serviço que os nossos clientes procuram. A qualidade do serviço que o Fitness pode prestar à sociedade depende de nós, os profissionais da área. Esta não é mais do que conseguir à primeira, que o produto ou serviço cumpra corretamente a finalidade para a qual está destinado, entregando-o ao cliente, na forma que o satisfaça.
Se estivermos a fazer algo que nos interessa muito, e se acreditarmos o suficiente no seu propósito, então é impossível imaginar não tentarmos tornar isso ótimo.
Licenciada em Educação Física e Desporto (FCDEF-UP)
Fitness Manager na Solinca Health & Fitness, SA
Master Trainer da Technogym
Formadora na GTF